A percepção do universo captada pela ordinária visão de um jornalista terráqueo

quinta-feira, 26 de junho de 2008

No mundo da Lua

Numa ação sem precedentes na história da exploração espacial, em novembro a NASA mandará para a Lua mais de um milhão de nomes junto com os satélites LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter) e LCROSS (Lunar Crater Observation and Sensing Satellite).

Os nomes serão colocados em um microchip instalado no satélite LRO, que será lançado pelo foguete Atlas V. A NASA abriu o cadastro no dia 1 de maio através de seu site e o prazo para mandar o nome é até o dia 27 de junho, ou seja, amanhã.

Esta será a primeira missão de exploração para o programa de retorno dos homens à Lua, em 2020. O LRO vai mapear a superfície lunar para ajudar na localização de um lugar seguro para aterrissagem, além de procurar recursos vitais para o homem.

Aficionado pelo espaço desde criança, não pude deixar de fazer o meu cadastro e homenagear um artista que, quando ainda vivo, aqui na Terra, já vivia no mundo da Lua. Veja abaixo o meu certificado e o do Mussum.


segunda-feira, 23 de junho de 2008

Profissão: Perigo

Engana-se quem pensa que falarei sobre o herói MacGyver neste post e seu indefectível canivete. Tampouco farei menção ao astuto, louco e corajoso Bear Grylls (o MacGyver da nova geração), apresentador do programa À Prova de Tudo.

A profissão perigo pela qual me refiro, por mais incrível que pareça, é o jornalismo. Elenquei sete vídeos que provam o quanto pode ser duro e embaraçoso o ofício gazeteiro. E, como cauto membro da classe, pretendo, com este post, fazer um sério alerta aos aspirantes a nossa fatídica profissão. Quer mesmo ser jornalista? Então, vai vendo:

O primeiro vídeo mostra as precárias estruturas a que somos submetidos a trabalhar. Situação que pode causar sérias dores de cabeça.



Este segundo vídeo mostra uma situação arriscadíssima. Fazer uma externa invariavelmente deixa o repórter alheio a terríveis situações de abuso e constrangimento.



Se o seu diretor te pauta para fazer uma passagem extravagante e diferenciada, desconfie. Ele pode estar armando uma grande cilada.



Nunca seja metido a besta e queira mostrar mais conhecimento do que realmente possui e, principalmente, tenha sempre cuidado onde coloca as mãos.



Uma criança não deve de forma alguma ficar perto de um repórter enquanto ele faz uma passagem. O risco, sim, é iminente.



Em terrenos excêntricos, a hostilidade pode ser involuntária. Portanto, watch your back!



Para finalizar, provo que até a interação pode ser causadora de danos e embaraços.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Só algum pequeno tiro pode lhe ter atingido

Tenho recebido coisas inusitadas pelo e-mail de remetentes que desconheço. Dessa vez foi essa tirinha, que veio acompanhada de uma frase bem carola. Tipo: "esquecemos da ajuda de alguém lá de cima e blá blá blá..."
O que eu achei curioso nessa historieta foi a semelhança do "alguém lá de cima" com o Cristo Redentor do topo do morro Corcovado. Automaticamente imaginei uma versão carioca para a tira, menos cristã e mais anedótica. Ao invés de pedras, balas perdidas.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

100 anos e grandes irmãos


Há exatos 100 anos, do porto de Kobe ao porto de Santos, navegou o Kasato Maru, primeira embarcação nipônica a aportar no Brasil carregando em seus pavimentos de bordo centenas de imigrantes.

Na ocasião, esses japoneses debandaram para terras tupiniquins em busca de melhores condições de vida, devido à pobreza e ao desemprego que assolava o Japão após o fim do feudalismo e do início da mecanização da agricultura no país.

A bordo do navio havia mais de 700 imigrantes, embora esse número hoje não represente o principal carregamento trazido pelo convés, proa, estibordo e bombordo do Kasato Maru.

A embarcação trouxe consigo, acima de tudo, o início de uma relação de trato mais próxima entre Brasil e Japão. Intimidade que evidentemente enfrentou (e ainda enfrenta) percalços pelo caminho, fator inerente a qualquer tipo de convivência. Mas que hoje, um século depois, torna-se um tanto mais forte, num mundo marcado pela globalização, por um mercado "desprovido" de fronteiras e, principalmente, pela miscigenação, vide os nossos (leia-se: do planeta) isseis, nisseis, sanseis, yonseis, mestiços e dekasseguis.

Sinto-me feliz e orgulhoso em pensar que este acontecimento centenário me trouxe verdadeiros irmãos (in)diretamente oriundos dessa curiosa terrinha. Saudação a vocês!

terça-feira, 17 de junho de 2008

O nosso cérebro é doido !!!

Recebi isto no e-mail:

De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso aocencte poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Sohw de bloa.

Fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito.

35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Lenda Mapuche (IV de IV)

(Índio falando)

“Machi é aquele que recebe das divindades a missão e o poder de curar pessoas tanto no plano material quanto no psíquico e espiritual. Agora você se encontra em meu Kuimü, momento em que contato forças sobrenaturais projetando em tudo a minha volta, inclusive em você, um estado de transe”.

“Estou fazendo um pequeno Machitun, ritual de cura para te livrar desta enfermidade. O Machitun é composto de três partes: diagnóstico, expulsão e revelação sobrenatural da verdadeira causa de sua doença”.

“Esta madeira (aponta) é de uma árvore chamada Rewe. Seu tronco é cósmico e une o mundo natural ao sobrenatural. Ela pode alcançar 40 metros de altura nos bosques úmidos e produz uma flor de cor branca chamada Ngulngu ülngu ulngo. Sua casca é grossa e contém uma delgada resina”.

“No Rewe misturo três espécies de plantas: Borraja, para purificar seu sistema respiratório; Tusilago, para limpar sua garganta; e Parqui o Palqui, para agir como sudorífero e anular seu resfriado e febre”.

(Pausa)

O Machi parou de falar e colocou de lado a espátula com que espremia aquelas substâncias. Com movimentos suaves me estendeu o Rewe e disse:

- Lave sua cara. Limpe seu nariz. E coma. (Kullumtunge. Liftuaymi tami yu. In.)

Eu estava tão envolvido e intrigado com suas palavras que não conseguia esboçar reação. Meio lesado e bem devagar olhei para a pasta que ele me estendia. Era algo muito parecido com o gorfo de um cachorro que tive que comia plantas no jardim da minha mãe. Ainda lento e pasmo, estendi a mão peguei o Rewe.

Coloquei-o no colo, apanhei um punhado da pasta com a mão e analisei. Tinha cheiro de folha e cara de gorfo de folha, nada apetecível. Numa ação repentina, botei um punhado na boca e mastiguei evitando caretas. O gosto não era tão ruim, afinal tinha sabor de folha. A consistência que não era das melhores, mas mesmo assim engoli. De certa forma tinha gostado daquilo e me empolguei. Comecei a passar no rosto, nariz e pescoço ao mesmo tempo em que comia. Comi um monte até escutar:

- Eluen (Dê-me)

Entreguei o rewe e supus que já tinha usado o suficiente. Trinta segundos depois comecei a sentir uma moleza muito forte por todo o corpo. Enquanto eu bocejava e espreguiçava com a cara toda melecada, o Machi cantarolava um mantra surreal batucando em um Kultrung (Instrumento de percussão mapuche feito com madeira nativa e coro de ovelha. Em seu interior há moedas de prata e pequenas pedras coloridas, de significado mágico e afetivo para o Machi).

- Feley, Feley / Feley, Feley / Chem dungu müley, peñi? / Chew ngemeymi? ó Chew Amuymi / Tunten fali? / Chumül Wiñoaymi? / Feley, Feley / Feley, Feley / Che kulliñ nieymi tami ruka mew?

- Assim és, assim viverás / Que novidades traz, irmão? / Para onde foi? / Para onde vai?/ Quando voltará? / Assim és, assim viverás / Como são os animais de onde você vem?

Aquela canção me envolvia completamente e a moleza que sentia no corpo dava lugar a uma sensação de prazer incomensurável. Eu não conseguia parar de sorrir e passar a mão sobre mim mesmo, embevecido numa onda de percepção de sentidos.

Minha visão já não se encontrava mais no interior daquela rústica cabana e nem tão pouco o índio eu avistava. Enxergava uma profusão ininterrupta de formas e cores, que começava num fundo branco e como uma raiz trepadeira subia, dava voltas, criava cores, seguia caminhos distintos, formava caleidoscópios, cintilava, faiscava e tremeluzia.

A audição estava extremamente aguçada. Podia ouvir passos de formigas ecoando em suas ligeirinhas passadas na terra batida. Conseguia escutar o escorregar de um pingo de orvalho no alto de uma árvore até o seu choque contra o chão, fragmentando-se em dezenas de gotículas.

No tempo em que tudo isso acontecia, o Machi continuava o mantra. Até que ele parou de cantar e retomou a fala. Eu continuava sem vê-lo, mas podia ouvi-lo com tanta nitidez que tinha a capacidade de enxergar suas palavras, que entravam em harmonia com aquele baile de formas e cores em minha visão.

- Eu te conheço há muito tempo, você que agora se autodenomina Luís. Conheci-te com o nome de Awkin Kürüf (Eco do Vento) em uma de nossas vidas, em que crescemos e aprendemos muitas coisas juntos.

- Hoje você está aí, encarnado e recebendo um novo aprendizado. Vejo que você não está se saindo mal, mas tenha cuidado. O Planeta Terra ainda é limitado e muito mais perigoso do que naquela época.
- Concentre-se em seu objetivo e lembre-se de seu verdadeiro propósito cósmico. Você é como o vento. Enquanto a mim foi dada a missão de curar, a você foi atribuída a incumbência de comunicar, embora não sejamos senhores do tempo nem da razão

- Missões não tornam ninguém mais especial do que ninguém, afinal cada ser deste universo existe por razões fundamentais, até mesmo os que se perdem.

- Evite suas tentações e ponha em prática suas ideologias. Seu coração é bom, por mais que você mesmo ainda não tenha tanta certeza disso. E lembre-se: o que mantém a alma viva e em constante jornada pelo cosmo é o desejo e a força de fazer o bem. Atitudes nefastas maculam o espírito até o seu desvanecimento.

- Como prometido naquela época, continuo olhando por ti. E quando os papéis novamente se inverterem, não esqueça de velar por mim, peñi.

Lágrimas incrédulas escorreram pelo meu rosto. Aquelas palavras me levaram até a Lua, onde pude contemplar a Terra. Levaram-me até o âmago de meu corpo, na parte mais íntima de meu ego, onde pude julgar meus atos. E, por fim, levaram-me até o nada, o vazio, onde pude enxergar a importância da vida.

E no nada eu permaneci por um bom tempo... Até que...

(Voz da Hermínia)

- Tom, Tom (insiste), você está bem?

(Barulho de motor e estrada)

Meio desorientado, olho para ela e pergunto:

- Onde estamos?

“Estamos chegando”, responde.

- Chegando onde?

“Em Pucon, oras. Para onde acha que estamos indo?”

Olhei a minha volta e tive um grande Déjà Vu. Estávamos realmente no ônibus que havia nos levado até Pucón um dia antes, na mesma estrada e na mesma hora. Logo pensei: “tudo não passou de um grande sonho. Mas como pode? Que sonho fantástico”.

Estava ainda confuso e abobado quando Hermínia perguntou:

- Como você está? E a garganta?

A gripe tinha sumido e a garganta estava indene.







quarta-feira, 11 de junho de 2008

Mulher Melancia no AutoShow


Não poderia existir combinação mais perfeita para o imaginário masculino: carro e mulher. Não simplesmente carro e nem tão pouco apenas mulher. O acontecimento presenciado no AutoShow Carros Antigos e Especiais desta terça-feira, dia 10 de junho, não foi um simples encontro. Poetas diriam que foi a arte do encontro. A arte em que curvas, beleza, modelo, e (porque não!?) turbinagem ganham notória bivalência e entram em perfeita harmonia.

Felizes dos incautos que estavam a contemplar um belíssimo Belair e se encantaram com as famosas coelhinhas. Venturosos dos que procuravam um Camaro sonho de consumo e deram de cara (ou de bunda) com Andressa Soares, a Mulher Melancia.

A fusão foi tão primorosa que nunca na história de uma noite de autógrafos foi registrado tamanho entusiasmo, tanto do público, que se amotinava curioso querendo comprar sua revista com direito a assinatura, como para as protagonistas, que vendiam a rodo seu produto e de quebra distribuíam formosos sorrisos para as fotos.

Em meio a um cenário composto por belas mulheres, carros, pilhas de revistas, pôsteres e melancias fatiadas – distribuídas ao público –, o lançamento da nova capa da revista Playboy no AutoShow foi um grande sucesso que contou com participação em peso da mídia, inclusive de Oscar Filho, representando o subjetivo e engajado CQC.

Chegar até Andressa para fazer uma entrevista ou apenas pegar uma citação foi tarefa árdua, digna de um verdadeiro jornalismo gonzo. E como manda o figurino:

- Olá Melancia, o que você está achando do evento?

“Um máximo. Muito cheio, nem esperava”.

- Você gosta de carros?

“Eu gosto, adoro”.

- Muito assédio do público?

“Muito! Não sabia que ia vender tanta revista aqui”.

Bom, ela podia não saber, mas Ricardo Ortiz, organizador da feira, já sabia: “Estávamos prevendo esse sucesso, pois unimos aqui duas paixões dos brasileiros. Agora a meta é trazer a Natália do BBB 8, que é a próxima capa da Playboy”.





*********************
* Texto originalmente publicado aqui.
* A citação do organizador da feira, Ricardo Ortiz, foi inventada pelo imprudente jornalista que vos escreve, por total intimidade com o URSO e por total falta do que falar.
* Não percam as esperanças! A parte da Natália do BBB 8 é verdade.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Lenda Mapuche (Parte III de IV)

Não tenho muita idéia de quanto tempo permaneci desacordado. A primeira coisa que percebi quando comecei a voltar do surto sincopado foi um cheiro adocicado, forte e diferente, quase desagradável. Estava deitado num lugar confortável, que em nada se parecia com o local onde havia caído desfalecido. Com dificuldade abri os olhos bem devagar. A vista estava embaçada, mas percebi que me encontrava num lugar fechado, em que a luz do sol entrava por um buraco no teto e por entre frestas no revestimento das paredes, que pareciam serem feitas de palha.

Estava coberto por uma manta de coro rústico com interior aveludado. Em cada um dos meus lados podia ouvir estalos de pequenas fogueiras queimando folhas e galhos, cuja fumaça produzia aquela estranha fragrância. Quando meus olhos finalmente se aclimataram com o ambiente de luminosidade branda, bem diante de mim, a menos de dois metros de distância, avistei um homem a me observar.

Aparentando meia idade, tinha cara arredondada, cabelos negros, lisos e compridos e pele morena. Estava vestido com poncho de capa grossa e faixa na cabeça. O olho grande e puxado me fez indagar: seria um índio mapuche?

Senti medo, muito medo e quando achei que tomaria uma atitude impensada de pânico, o homem falou:

- Chumleymi peñi?

Por um segundo titubeei, mas, confuso e sem saber exatamente como, pude entender perfeitamente aquelas palavras. Ele havia perguntado se eu estava bem e aquilo me acalmou profundamente. Ao pé da letra, Chumleymi peñi? quer dizer Como está irmão? em mapudungun. Sim, era um índio mapuche.

Eu parecia estar numa espécie de transe em que não conseguia distinguir com precisão se estava acordado ou sonhando, embora tivesse a certeza de que se aquilo ali era mesmo um sonho nunca tinha vivido um tão real. Daí que aconteceu uma das coisas mais bizarras da minha vida. Em resposta à pergunta do índio, fiz sinal com a cabeça que estava bem e de repente, num ato praticamente que involuntário, respondi em mapudungun, língua que jamais tinha ouvido quanto mais estudado.

- May, kümelen, eymikay?, disse eu. (Sim, estou bem, e você?)

Em bom mapudungun fui educado, mas ainda sentia-me péssimo, com a cabeça pesada por conta da gripe. Mesmo assim fiz um esforço para levantar e permanecer sentado. Percebi que estava realmente em transe quando descobri com quem conversava, à medida que o papo se alongava e meu mapudungun se revelava fluente.

- Iney pingeymi? (Como se chama?), perguntou o índio.

Falei que meu nome era Luís e perguntei quem era ele e o que eu estava fazendo ali, naquela cabana, e como tinha chegado até lá. Enquanto me explicava, o índio fazia num pedaço de tronco uma pasta à base de plantas e água.

- Inche Machi. (Eu sou o Machi).



















***********************************************

A última parte de Lenda Mapuche será publicada nesta sexta-feira, 13 de junho. Isso mesmo, sexta-feira 13 13 13 13 13 (com eco para fazer suspense). Não Percam!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Lenda Mapuche (Parte II de IV)

Depois de uma prazerosa passagem por Santiago, fomos para Temuco, cidade que fica aproximadamente 700 quilômetros ao sul da capital. De lá, enfrentamos mais uma hora e meia de ônibus até Pucon, um vilarejo localizado aos pés do vulcão Villarica, um dos mais ativos do Planeta, e cuja formosa topografia formada por vulcões, lagos e cerras propiciam uma economia voltada ao turismo.

Logo fiquei sabendo que a região abrigava “pueblos” mapuches, condição que me deixou de certa forma extasiado. Só não contava com a abrupta recaída da inflamação em minha garganta.

Cheguei em Pucon com uma febre que batia picos de 40 graus e uma dor de garganta que literalmente impedia-me de engolir a própria saliva. Com o frio atingindo uma temperatura em torno de zero grau, o que agravava ainda mais minha situação, a primeira noite no vilarejo foi um pesadelo.

Hospedamos-nos num chalé fantástico, com vista cinematográfica de lagos e montanhas, embora nada conseguisse curtir naquele momento. A febre estava tão intensa que me causou delírios momentâneos durante a noite. Meus desvarios assustaram muito Hermínia, que, como um anjo, praticamente não dormiu cuidando de mim. Numa tentativa desesperada de me curar, de meia em meia hora ela passava um pano úmido em minha testa, rosto e nuca. Enquanto me contorcia com dores no corpo todo e suava frio, as mãos macias e umedecidas de minha esposa proporcionavam-me momentos únicos de relaxamento.

Ao alvorecer do dia, a febre ainda estava longe de ceder. Eu parecia um bagaço e Hermínia queria me levar de qualquer jeito ao primeiro hospital.

Relutei:

- “não”.

Parecendo um louco, emendei: “preciso andar, suar essa febre, subir um morro talvez”. Já estava irritado por estar num lugar tão bonito e, no entanto, impossibilitado de aproveitar.

Sem alternativas ela concordou e, então, aprontei-me, vestindo um casaco de neve, luvas e cachecol. Com aparência de morto vivo saí de casa com o sol brilhando e com uma temperatura bem mais amena que a da madrugada. Fomos até o Parque Nacional Huerquehue, em que uma caminhada alcantilada de sete quilômetros nos esperava.

Começando por uma estrada deserta, passamos por pequenas fazendas de criadores de ovelhas até chegar ao pé de um morro, em que, em ritmo de subida, caminhamos dois quilômetros ininterruptos. Alcançamos dois mirantes fantásticos, indescritíveis apenas com palavras, numa paisagem que cingia o lago de Pucón e os vulcões Villarica e Llayma.

A gripe se mantinha forte, o que me fazia suar que nem um porco. Hermínia, já cansada, queria voltar e se recusava a subir até um terceiro mirante que devia estar no máximo há 15 minutos dali, onde paramos para comer uma barra de cereal e tomar água. Também pudera, havíamos passado o dia anterior inteiro viajando e nem conseguimos descansar direito por causa de minha febre. No parque já caminhávamos há três horas sem parar e de fato as pernas já não agüentavam mais. Entretanto, sem raciocinar muito e sem saber bem porque coloquei na cabeça que, independente de qualquer coisa, tinha que ir até lá.

Hermínia resolveu ficar no segundo mirante me esperando e eu rumei em direção ao terceiro. Dei-a um beijinho carinhoso e prometi que não demoraria. Caminhei por aproximadamente vinte minutos até desembocar numa mata fechada, que nada se parecia com uma trilha. O mirante não chegava nunca e a mata ficava cada vez mais densa. Com a cabeça pesada por causa da gripe e o corpo muito dolorido, fiquei desnorteado. Tentei voltar, mas já não sabia por onde havia passado. Estava completamente perdido.

Um desespero incontrolável começou a tomar conta de meus sentidos. Iniciei uma correria sem sentido, totalmente desgovernada. Os arbustos batiam na minha cara machucando-a impiedosamente. Quanto mais corria mais desesperado ficava e uma perversa angústia sufocava meu peito. Corri, corri, corri até cair. Já sem fôlego e sem forças, tentei levantar, mas minha fraqueza era tanta que fiquei tonto e desmaiei.





quinta-feira, 5 de junho de 2008

Lenda Mapuche (Parte I de IV)

Quando embarcamos em Lua de Mel para o Chile não poderia nunca fazer idéia da grande aventura transcendental metafísica que me aguardava e, acreditem, não estou fazendo menção às peripécias afrodisíacas habituais em viagens de nubentes.

Minha festa de casamento tinha sido uma noitada daquelas, e a dor de garganta do dia seguinte anunciava o advento de uma gripe. Depois de duas doses de scotch puro para aliviar a dor de garganta (e, confesso, o medo de avião) e aproximadamente três horas e meia de vôo, chegamos a capital chilena.

A caminho do hotel, pedi para o taxista parar em uma farmácia, onde me abasteci de remédios para “dolor” de garganta. Ficamos dois dias em Santiago, em que um analgésico aliado a uma boa pastilha conseguiram manter-me, pelo menos por ora, com a goela incólume.

Por lá não paramos um segundo. Ficamos alojados no hospitaleiro e charmoso bairro Providencia e visitamos diversos pontos turísticos, como a Plaza de las Armas, o Palácio La Moneda, a casa de Neruda, o Mercado Central, os cerros San Cristóbal e Santa Lucia entre outros pontos turísticos.

Durante nossas pernadas pela bela capital, a todo instante avistando a colossal Cordilheira dos Andes, parávamos nas mais variadas e extravagantes feirinhas, devido a um vício incontrolável de minha esposa por artesanatos.

Enquanto ela se encantava a cada barraquinha e gastava um punhado de nossos pesos chilenos, eu sentia uma estranha atração pela cultura Mapuche, dos livros que contavam suas histórias aos artesanatos e camisetas.

Para quem não conhece, os mapuches são indígenas que habitam vales nas encostas de grandiosos vulcões na região central e sulista do Chile. Sua economia é baseada na agricultura e sua fama de nunca ter se curvado aos colonizadores espanhóis ultrapassam a fina e montanhosa fronteira do país.

Entretanto, uma característica em especial os torna ainda mais interessantes. A palavra mapuche significa “gente de la tierra” na língua origem de seu povo, o mapudungun (que, por sua vez, quer dizer linguagem da terra). Sua denominação reflete a sintonia dos mapuches com o planeta, seu conhecimento sobre o solo, as árvores, plantas e pedras. Em paralelo a isso, dominam a magia e a manipulação de plantas medicinais, algo que, mais tarde e por mais incrível que pareça, experimentaria in cutis.








segunda-feira, 2 de junho de 2008

Jornalista Terráqueo recomenda

Para quem ainda não foi assistir ao espetáculo Novos Velhos Dias, recomendo eloquentemente. Com texto de Reinaldo Maia e direção de Fernando Nitsch, a comédia conta uma história futurista muito engraçada e envolvente.

Fato digno de nota é a atuação brilhante da minha grande irmã e fantástica atriz Marília Miyazawa, que logo na primeira cena, em que interpreta uma robô, canta o medley Somewhere over the rainbow / What a wonderful world, atando na garganta um nó irremediável às lágrimas deste emocionado blogueiro que vos escreve.

Sem falar na cena, não menos emocionante, em que a estonteante e exuberante robô faz com que corações pulsem vigorosamente e queixos marmanjos atinjam a lona ao protagonizar um striptease. É de arrepiar!

Em tempo: ontem, assistindo à terrificante TV dominical pós Fantástico, para minha grande surpresa e satisfação, vejo o nosso querido amigo Fábio Lago participando full-time do seriado global Faça Sua História , ao lado do protagonista Vladimir Brichta. Muito engraçado Fabinho, sensacional. No detalhe: