A percepção do universo captada pela ordinária visão de um jornalista terráqueo

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Lenda Mapuche (Parte III de IV)

Não tenho muita idéia de quanto tempo permaneci desacordado. A primeira coisa que percebi quando comecei a voltar do surto sincopado foi um cheiro adocicado, forte e diferente, quase desagradável. Estava deitado num lugar confortável, que em nada se parecia com o local onde havia caído desfalecido. Com dificuldade abri os olhos bem devagar. A vista estava embaçada, mas percebi que me encontrava num lugar fechado, em que a luz do sol entrava por um buraco no teto e por entre frestas no revestimento das paredes, que pareciam serem feitas de palha.

Estava coberto por uma manta de coro rústico com interior aveludado. Em cada um dos meus lados podia ouvir estalos de pequenas fogueiras queimando folhas e galhos, cuja fumaça produzia aquela estranha fragrância. Quando meus olhos finalmente se aclimataram com o ambiente de luminosidade branda, bem diante de mim, a menos de dois metros de distância, avistei um homem a me observar.

Aparentando meia idade, tinha cara arredondada, cabelos negros, lisos e compridos e pele morena. Estava vestido com poncho de capa grossa e faixa na cabeça. O olho grande e puxado me fez indagar: seria um índio mapuche?

Senti medo, muito medo e quando achei que tomaria uma atitude impensada de pânico, o homem falou:

- Chumleymi peñi?

Por um segundo titubeei, mas, confuso e sem saber exatamente como, pude entender perfeitamente aquelas palavras. Ele havia perguntado se eu estava bem e aquilo me acalmou profundamente. Ao pé da letra, Chumleymi peñi? quer dizer Como está irmão? em mapudungun. Sim, era um índio mapuche.

Eu parecia estar numa espécie de transe em que não conseguia distinguir com precisão se estava acordado ou sonhando, embora tivesse a certeza de que se aquilo ali era mesmo um sonho nunca tinha vivido um tão real. Daí que aconteceu uma das coisas mais bizarras da minha vida. Em resposta à pergunta do índio, fiz sinal com a cabeça que estava bem e de repente, num ato praticamente que involuntário, respondi em mapudungun, língua que jamais tinha ouvido quanto mais estudado.

- May, kümelen, eymikay?, disse eu. (Sim, estou bem, e você?)

Em bom mapudungun fui educado, mas ainda sentia-me péssimo, com a cabeça pesada por conta da gripe. Mesmo assim fiz um esforço para levantar e permanecer sentado. Percebi que estava realmente em transe quando descobri com quem conversava, à medida que o papo se alongava e meu mapudungun se revelava fluente.

- Iney pingeymi? (Como se chama?), perguntou o índio.

Falei que meu nome era Luís e perguntei quem era ele e o que eu estava fazendo ali, naquela cabana, e como tinha chegado até lá. Enquanto me explicava, o índio fazia num pedaço de tronco uma pasta à base de plantas e água.

- Inche Machi. (Eu sou o Machi).



















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A última parte de Lenda Mapuche será publicada nesta sexta-feira, 13 de junho. Isso mesmo, sexta-feira 13 13 13 13 13 (com eco para fazer suspense). Não Percam!

5 comentários:

karina disse...

esta mt boa a sua saga,mau posso esperar para o final, bjs

Anônimo disse...

Ai Tom...to aqui sem conseguir dormir de tanta curiosidade!!!!Chega sexta-feira...chega!!!!!!!!!!!
Beijos,Tai

Anônimo disse...

Poatz.... esperar até sexta vai ser phoda!!!!

Bom....
Cometários na parte final!!

Abs Osama!

Guilherme disse...

Sensacional Osama....

O eco então....

Ansioso no aguardo!
Abraços!

Mari disse...

to esperandooooo