A percepção do universo captada pela ordinária visão de um jornalista terráqueo

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Lenda Mapuche (Parte II de IV)

Depois de uma prazerosa passagem por Santiago, fomos para Temuco, cidade que fica aproximadamente 700 quilômetros ao sul da capital. De lá, enfrentamos mais uma hora e meia de ônibus até Pucon, um vilarejo localizado aos pés do vulcão Villarica, um dos mais ativos do Planeta, e cuja formosa topografia formada por vulcões, lagos e cerras propiciam uma economia voltada ao turismo.

Logo fiquei sabendo que a região abrigava “pueblos” mapuches, condição que me deixou de certa forma extasiado. Só não contava com a abrupta recaída da inflamação em minha garganta.

Cheguei em Pucon com uma febre que batia picos de 40 graus e uma dor de garganta que literalmente impedia-me de engolir a própria saliva. Com o frio atingindo uma temperatura em torno de zero grau, o que agravava ainda mais minha situação, a primeira noite no vilarejo foi um pesadelo.

Hospedamos-nos num chalé fantástico, com vista cinematográfica de lagos e montanhas, embora nada conseguisse curtir naquele momento. A febre estava tão intensa que me causou delírios momentâneos durante a noite. Meus desvarios assustaram muito Hermínia, que, como um anjo, praticamente não dormiu cuidando de mim. Numa tentativa desesperada de me curar, de meia em meia hora ela passava um pano úmido em minha testa, rosto e nuca. Enquanto me contorcia com dores no corpo todo e suava frio, as mãos macias e umedecidas de minha esposa proporcionavam-me momentos únicos de relaxamento.

Ao alvorecer do dia, a febre ainda estava longe de ceder. Eu parecia um bagaço e Hermínia queria me levar de qualquer jeito ao primeiro hospital.

Relutei:

- “não”.

Parecendo um louco, emendei: “preciso andar, suar essa febre, subir um morro talvez”. Já estava irritado por estar num lugar tão bonito e, no entanto, impossibilitado de aproveitar.

Sem alternativas ela concordou e, então, aprontei-me, vestindo um casaco de neve, luvas e cachecol. Com aparência de morto vivo saí de casa com o sol brilhando e com uma temperatura bem mais amena que a da madrugada. Fomos até o Parque Nacional Huerquehue, em que uma caminhada alcantilada de sete quilômetros nos esperava.

Começando por uma estrada deserta, passamos por pequenas fazendas de criadores de ovelhas até chegar ao pé de um morro, em que, em ritmo de subida, caminhamos dois quilômetros ininterruptos. Alcançamos dois mirantes fantásticos, indescritíveis apenas com palavras, numa paisagem que cingia o lago de Pucón e os vulcões Villarica e Llayma.

A gripe se mantinha forte, o que me fazia suar que nem um porco. Hermínia, já cansada, queria voltar e se recusava a subir até um terceiro mirante que devia estar no máximo há 15 minutos dali, onde paramos para comer uma barra de cereal e tomar água. Também pudera, havíamos passado o dia anterior inteiro viajando e nem conseguimos descansar direito por causa de minha febre. No parque já caminhávamos há três horas sem parar e de fato as pernas já não agüentavam mais. Entretanto, sem raciocinar muito e sem saber bem porque coloquei na cabeça que, independente de qualquer coisa, tinha que ir até lá.

Hermínia resolveu ficar no segundo mirante me esperando e eu rumei em direção ao terceiro. Dei-a um beijinho carinhoso e prometi que não demoraria. Caminhei por aproximadamente vinte minutos até desembocar numa mata fechada, que nada se parecia com uma trilha. O mirante não chegava nunca e a mata ficava cada vez mais densa. Com a cabeça pesada por causa da gripe e o corpo muito dolorido, fiquei desnorteado. Tentei voltar, mas já não sabia por onde havia passado. Estava completamente perdido.

Um desespero incontrolável começou a tomar conta de meus sentidos. Iniciei uma correria sem sentido, totalmente desgovernada. Os arbustos batiam na minha cara machucando-a impiedosamente. Quanto mais corria mais desesperado ficava e uma perversa angústia sufocava meu peito. Corri, corri, corri até cair. Já sem fôlego e sem forças, tentei levantar, mas minha fraqueza era tanta que fiquei tonto e desmaiei.





4 comentários:

João Prado disse...

"não", ooouuuh! aha

karina disse...

Hum, Puxa não sabia que sua Lua de mel tinha sido uma Odisséia...
Fora isso saudade...vcs tem telefone fixo na sua casa, manda por e-mail quero ligar ai, bjs e manda um bj para Mí

Guilherme disse...

Caralho Osama......Tô curioso pra saber o resto agora....

Belas fotos....
Valeu os elogios ao meu post.....vindo de vc.....
Grande Abraço!

Marília Miyazawa disse...

O QUE? QUE HISTÓRIA É ESSA?CORRENDO, SEM RUMO, DOENTE, EM TERRAS ESTRANGEIRAS? PARECE LOUCO,MEU?
E COMO TERMINA ESSA HISTÓRIA?
TÁ PARECENDO LOST, MISTÉRIO...