A percepção do universo captada pela ordinária visão de um jornalista terráqueo

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O começo de minhas pesquisas sobre energia nuclear

Energia nuclear é um assunto pra lá de polêmico. Existem estudiosos da causa capazes de afirmar com convicção que este tipo de energia é suja. Assim como outros, tão estudiosos quanto, que afirmam se tratar de energia limpa. Mas, afinal de contas, a energia nuclear é suja ou limpa?

Tal indagação, aliada ao licenciamento prévio concedido pelo Ibama a Eletronuclear para retomada das obras de Angra 3, motivou-me dar um pontapé inicial a uma reportagem abordando os prós e contras dessa fonte de energia.

Curioso é que o assunto energia nuclear vem, de certa forma, rodeando-me há algum tempo. A maioria dos poucos (mas valiosos) leitores desse blog sabe que sou colaborador e voluntário do Greenpeace. No ano passado fiz três vídeos com a entidade, quando ainda estava mais ativo por lá. Um sobre clima e outros dois sobre energia nuclear (eis aqui um e outro).

Diante deste fato, foi inevitável que passasse pela cabeça: como elaborar uma investigação cuidadosa sobre este assunto sem que o fator 'Greenpeace' influenciasse tanto?

Resolvi, então, começar minhas pesquisas pelo outro lado da moeda. Achei que era necessário primeiro conhecer o funcionamento de uma usina nuclear e seus processos antes de me aprofundar mais no assunto. E conhecer significava ver de perto, com meus próprios olhos.

Fiquei duas semanas tentando marcar uma visita `a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto. Não foi fácil e por um momento achei que teria que mudar de estratégia. Eles alegavam que ficava difícil disponibilizar um engenheiro para me acompanhar sendo que eu estava fazendo uma reportagem de forma autônoma e sem um veículo pré-definido para publicação.

Até que decidi utilizar minha última carta, devidamente guardada na manga à espera do momento certo. E era um "zap": "o negócio é o seguinte, já falei com o Greenpeace e eles pronunciaram coisas terríveis sobre energia nuclear e algumas práticas da Eletronuclear. Vou vender esta matéria conversando ou não com vocês".

Não deu outra, na segunda-feira passada, Jaime Ferreira, assessor de imprensa da Eletronuclear, me ligou agendando a visita. Não sei se a intenção foi dificultar, mas, mesmo sabendo que eu vinha de São Paulo, marcaram minha ida à Angra dois dias depois da ligação, numa quarta-feira - meio de semana - com horário de chegada às 10 horas da manhã. Entretanto, topei sem titubear.

Na quarta, acordei às 4 horas da madrugada e a viagem foi outro episódio em si, que relatarei com detalhes na reportagem. Ao contrário da dificuldade em agenda a visita, lá fui muitíssimo bem recebido e todos os acessos foram facilitados, tanto com relação às perguntas como às fotos. Conheci, entre outras coisas, a usina de Angra 2, o depósito de rejeitos de baixa e média radioatividade, o canteiro de obras de Angra 3, o galpão onde estão guardadas há cerca de 20 anos as peças da obra embargada e o laboratório de monitoramento ambiental.

O engenheiro que me acompanhou na visita, Francisco Vilhena, conseguiu esclarecer, com extrema paciência, muitas das minhas dúvidas com relação ao processo de produção de energia de uma usina nuclear. Desde a extração e enriquecimento do urânio até o seu bombardeamento com elétrons para produzir a fissão nuclear dentro do reator, reação em cadeia que proporciona o calor que, por sua vez, aquece a água e gera o vapor que aciona as turbinas da usina, criando, assim, a energia que abastece as cidades (tudo isso será explicado com mais detalhes na reportagem).

Terminei a visita com a sensação de ter obtido êxito com relação à importante idéia de desenvolver uma reportagem desprovida de valores pré-estabelecidos. Veja bem, não que eu acredite em jornalismo imparcial. E, de fato, não acredito, mas acho fundamental uma investigação cética.

Se era uma boa imagem que a Eletronuclear queria passar, ela conseguiu. Claro que com ressalvas. De forma alguma as minhas questões com relação ao asseio e integridade da energia nuclear foram resolvidas. Até porque isso é só o começo. Tenho uma lista enorme de fontes fundamentais a serem apuradas na matéria.

O próximo passo é conversar com Rebeca Lerer, responsável pela campanha Nuclear do Greenpeace, que, a propósito, nao está respondendo meus e-mails. Mas não tem problema. Caso julgue necessário, tenho uma carta na manga para ela também.

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Em tempo: fui convidado pela Presidente do recém nascido Institudo RAM de Reeducação Ambiental, Lisiane Braga, para fazer parte do grupo sócio fundador da entidade e colaborar com ações em comunicação. Aceitei com muito orgulho.

13 comentários:

Fabio Raphael disse...

Sempre com o Zap na manga né?

Achei bem interessante a matérias, despertou muita curiosidade sobre o que realmente está por tras desde texto introdutório!

Estamos esperando, sedentos por informações sobre esse tema que atinge todos os Terráqueos

João Prado disse...

É isso osama... posso dizer que é exatamente isso!

abração

Anônimo disse...

Cara, muito bom...
Só fiquei preocupado agora de vc fazer uma reportagem pró-energia nuclear...
Sem querer me intrometer muito, mas já me intrometendo: se a questão é matriz energética, não podemos falar apenas da oferta (a fonte de geração de energia), mas também da demanda: os consumidores de energia, nós e as empresas.
Indispensável que você mencione o fato que o crescimento (in)sustentável é uma grande falácia, porque é impossível que todos os países do globo cresçam a uma taxa qualquer, sem que a Terra seja destruída...
O aumento do consumo de energia é o pior problema...
Sinceramente, sinto calafrios quando ouço coisas do tipo "O Lula conseguiu fazer o Brasil crescer a uma taxa de 3% ao ano, ele é muiot bom" ou então "O Lula é um incompetente, o Brasil só cresce 3% ao ano".
O Brasil não pode crescer mais!! Chega!! qual o objetivo dessa política econômica mundial? Transformar o mundo numa imensa megalópole, uma SãoPauloRiodeJaneiroNovaIorqueCidadedoMéxicoTóquio??
Pense nisso quando for abordar este tema...

Abração
Gabriel Dread Siqueira

Anônimo disse...

Tom!

To querendo "falar" com vc...
Me manda um email:
gabrielsica arroba gê mail ponto com!

Abração
Gabriel Dread Siqueira

Unknown disse...

O desenvolvimento é o domínio colonial por outras vias, portanto um imperativo do Brasil. Periferia é isso!

Sobre a energia nuclear, vale lembrar Ivan Illich, no texto clássico "Energia e equidade". Quanto mais complexa a forma de gerar energia, menos democrática é a sua gestão.

Anônimo disse...

Tom, confira no meu blog:
"-Jornalista Terráqueo: A percepção do universo captada pela ordinária visão de um jornalista terráqueo
Blogue do meu querido amigo Tom...Um jornalista lunático, mas que procura, com este blogue, firmar os pés no chão... Aproveito pra contar um "segredo": o Tom é também o Osama da Paz, da banda de hip-hop Junky Clã..."

Abraços
Gabriel Dread
Ps: Acho q foi por aí q o sr. Pedro de Lama chegou aqui...

Guilherme disse...

E ai Osama!!! Muito loka sua pró atividade! Fazendo a corres para uma reportagem autônoma.... tá me saindo um belo jornalista mano!! Quem só te conheceu na faculdade não iria nem acreditar!!! Aquele zap me pareceu mais uma quadra de ás! hehehhe! Continue assim!

No aguardo da matéria!!!
Tô na correria por aqui tbm! Trampando a vera! Nem parece eu!!! huahauhuah
Abração!

Daniel Crenitte disse...

é isso aí mestre. Muitas cartas na manga. Aprendeu com o papai aqui, nas nossas noitadas de poker...heheheh.

Brincadeiras à parte, parabéns pela iniciativa. Se eu puder te ajudar, tamo aí!!

Abração,

Crenitte

Anônimo disse...

Um comentário tardio, com um mês de atraso, contrariando a lógica jornalística:

Do caralho a iniciativa! Onde posso ler/ver a reportagem pronta?

Tomara que isso se torne algo maior...

Abs,

MOL

Anônimo disse...

Quanto custa um metro de urânio?

Anônimo disse...

http://desciclopedia.pt/wiki/Cisplatina

Anônimo disse...

Pesquise sobre a volta da vida marinha no atol de bikini.

Miriã Soares disse...

Ah, gostei de sua pesquisa, parcial ou não. E sinceramente, o método utilizado...estratégia boa, hem?