A percepção do universo captada pela ordinária visão de um jornalista terráqueo

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Para passar de fase no jogo entre passado e futuro, só descobrindo o presente

A vida é boa e impreterivelmente feita de fases. Já fui menino num período lúdico e despreocupado; adolescente no melhor estilo rebelde, experimentador, bobo e feio; jovem estudante mais interessado em mudar o mundo com ideologias pessoais através da música do que com o estudo propriamente dito.

Como quem ruma em direção a uma nova porta, com plaqueta precisamente localizada em seu pináculo e descrita como F-U-T-U-R-O, encerro mais uma fase nesta oxidável vida.

Sim, hoje sou um homem casado. Numa sociedade extremamente egoísta e cada vez mais carente de rituais, minha última saga sacramental, até pelas condições, pode ter representado uma marcha ousada e intrépida, mas não passou de atitude movida por volúpia, por ímpeto visceral, ou seja, nada muito pensado ou estruturado. Se pudesse rotular esta passagem, a descreveria como um verdadeiro e espontâneo orgasmo vital.

Não que não esteja feliz com a nova condição, muito pelo contrário. Talvez nunca tenha me sentido tão afortunado. Sinto-me bem: novo sex appeal, novo libido, novos desafios. O que pega um pouco é o desapego ao passado e às fases despreocupadas; o afrontamento às novas, sérias e severas responsabilidades.

Entretanto, nada que não consiga passar por cima. Mas como se ainda pudesse ouvir o rangido estridente do passado se fechando até o estalo do seu choque contra o batente, ensaio os primeiros e tímidos passos através do pórtico vindouro.

O futuro... Por mais que a astrologia e as culturas esotéricas em geral tentem decifrar suas facetas, ele é um estranho que dificilmente mostra sua cara. E como qualquer desconhecido, provoca medo.

Divagando, projeto o futuro como um cão feroz bem no meu caminho, obrigando-me a todo instante conter o odor de receio que insiste em sair pelos meus poros. Tentativa frustrada em meio a uma imagem tão pavorosa: pardo, tipo pitbull, musculoso, dentes afiados, baba escorrida e focinho apontado para o alto, tentando captar a mais leve fragrância. Instantaneamente exalo de meu corpo uma “fumacinha” com cheiro de medo, invisível e inexorável.

O futuro me olha nos olhos, e eu não desvio o olhar. Com as mãos abaixadas, próximas à cintura, aperto rigidamente os punhos e continuo andando. Meu cheiro, que a essa altura já passeia volumosamente por suas vias nasais, o coloca em alerta. De orelha em pé, não late, apenas rosna bem baixinho com minha aproximação. Subterfúgios passam inertes pela minha mente. Paro de encará-lo e miro meu caminho, andando e enfrento meu medo. Impassível, passo pelo futuro sem olhar para trás e sem me importar tanto com o rottweiler que acabo de avistar na próxima esquina.

Na mente ouço a voz de Raul Seixas com entonação americana artificiosa como a de um cantor de blues tupiniquim: “It’s the begging, the end and the middle, my friend”. E a frase, para mim, traz sentido peculiar: compreendo a existência de um novo começo; a até então irrelevância do fim, que se traduz em morte; e o meio, como grande protagonista nesta passagem pela Terra, simbolizando o presente, a necessidade de encontrar um meio para tudo todos os dias da minha vida.


6 comentários:

Mari disse...

eu tenho medo do futuro, mas às vezes esqueço que ele existe e quando percebo, me vejo gritando, meio que anunciando o que eu queria fazer daqui pra frente. Às vezes ele me responde só com imagens querendo me dizer que nao era bem assim que o negócio ia funcionar. Acho q nunca olhei nos olhos dele. Vou tentar hehe.
beijos querido!

Guilherme disse...

É foda não ter nenhuma idéia de que vai ser daqui pra frente....entendo sua angústia, pois agora vc está por conta própria, me sinto assim tbm pela primeira vez na vida! Mas, tenho plena confiança em vc amigo! E estou começando a ter essa confiança em mim tbm! Apesar de estar rolando um medinho....hehe!
Abraço jow!

ps: bela foto! já viu o vídeo do casamento???

Square Beast disse...

eu sou o início, o fim, o meio...

Marília Miyazawa disse...

Medo do novo só aparece para os que tem CORAGEM. E isso,meu irmão amigo, pode bater no peito com orgulho e dizer:EU TENHO!!!!!
COMO EU AMO ESSE CASAL!

Anônimo disse...

Ou deixa eu falar aqui nao pude deixar de fazer esse comentario logo apos que eu li.
Li duas vezes entendeu, e rapaiz me veio na memoria aqui, instantaneamente sem querer, de uma epoca ai em que voce mesmo que o escreve me ligava a tarde usualmente, um dia antes da prova e me perguntava: "Ou, voce vai estudar?" Com o som da guitarra por detras. E eu ainda dormindo acordado falando ao telefone respondia "Ah velhinho acho que nao, nem vai rola 'o!" e voce falava na sequencia:"Ahhhh entao tambem nem vou!!!" "Beleza amanha agente se fala".
Rapaiz e olha voce ai agora quase nao consegui entender!!! Parece ingles porra!!! heehehhe
Da hora manoww.....Ta aprendendo hein....Loko Loko Loko....
Entao e eu acho q e 'e isso ai mesmo meu irmao, Vida nova, Nova fase. Mas por isso mesmo 'e que essa vida 'e da hora!!!!!
Beautiful!!!!

Japa

Anônimo disse...

Lindo Osama!
Lindo cara!!