O começo de minhas pesquisas sobre energia nuclear
Energia nuclear é um assunto pra lá de polêmico. Existem estudiosos da causa capazes de afirmar com convicção que este tipo de energia é suja. Assim como outros, tão estudiosos quanto, que afirmam se tratar de energia limpa. Mas, afinal de contas, a energia nuclear é suja ou limpa?
Tal indagação, aliada ao licenciamento prévio concedido pelo Ibama a Eletronuclear para retomada das obras de Angra 3, motivou-me dar um pontapé inicial a uma reportagem abordando os prós e contras dessa fonte de energia.
Curioso é que o assunto energia nuclear vem, de certa forma, rodeando-me há algum tempo. A maioria dos poucos (mas valiosos) leitores desse blog sabe que sou colaborador e voluntário do Greenpeace. No ano passado fiz três vídeos com a entidade, quando ainda estava mais ativo por lá. Um sobre clima e outros dois sobre energia nuclear (eis aqui um e outro).
Diante deste fato, foi inevitável que passasse pela cabeça: como elaborar uma investigação cuidadosa sobre este assunto sem que o fator 'Greenpeace' influenciasse tanto?
Resolvi, então, começar minhas pesquisas pelo outro lado da moeda. Achei que era necessário primeiro conhecer o funcionamento de uma usina nuclear e seus processos antes de me aprofundar mais no assunto. E conhecer significava ver de perto, com meus próprios olhos.
Fiquei duas semanas tentando marcar uma visita `a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto. Não foi fácil e por um momento achei que teria que mudar de estratégia. Eles alegavam que ficava difícil disponibilizar um engenheiro para me acompanhar sendo que eu estava fazendo uma reportagem de forma autônoma e sem um veículo pré-definido para publicação.
Até que decidi utilizar minha última carta, devidamente guardada na manga à espera do momento certo. E era um "zap": "o negócio é o seguinte, já falei com o Greenpeace e eles pronunciaram coisas terríveis sobre energia nuclear e algumas práticas da Eletronuclear. Vou vender esta matéria conversando ou não com vocês".
Não deu outra, na segunda-feira passada, Jaime Ferreira, assessor de imprensa da Eletronuclear, me ligou agendando a visita. Não sei se a intenção foi dificultar, mas, mesmo sabendo que eu vinha de São Paulo, marcaram minha ida à Angra dois dias depois da ligação, numa quarta-feira - meio de semana - com horário de chegada às 10 horas da manhã. Entretanto, topei sem titubear.
Na quarta, acordei às 4 horas da madrugada e a viagem foi outro episódio em si, que relatarei com detalhes na reportagem. Ao contrário da dificuldade em agenda a visita, lá fui muitíssimo bem recebido e todos os acessos foram facilitados, tanto com relação às perguntas como às fotos. Conheci, entre outras coisas, a usina de Angra 2, o depósito de rejeitos de baixa e média radioatividade, o canteiro de obras de Angra 3, o galpão onde estão guardadas há cerca de 20 anos as peças da obra embargada e o laboratório de monitoramento ambiental.
O engenheiro que me acompanhou na visita, Francisco Vilhena, conseguiu esclarecer, com extrema paciência, muitas das minhas dúvidas com relação ao processo de produção de energia de uma usina nuclear. Desde a extração e enriquecimento do urânio até o seu bombardeamento com elétrons para produzir a fissão nuclear dentro do reator, reação em cadeia que proporciona o calor que, por sua vez, aquece a água e gera o vapor que aciona as turbinas da usina, criando, assim, a energia que abastece as cidades (tudo isso será explicado com mais detalhes na reportagem).
Terminei a visita com a sensação de ter obtido êxito com relação à importante idéia de desenvolver uma reportagem desprovida de valores pré-estabelecidos. Veja bem, não que eu acredite em jornalismo imparcial. E, de fato, não acredito, mas acho fundamental uma investigação cética.
Se era uma boa imagem que a Eletronuclear queria passar, ela conseguiu. Claro que com ressalvas. De forma alguma as minhas questões com relação ao asseio e integridade da energia nuclear foram resolvidas. Até porque isso é só o começo. Tenho uma lista enorme de fontes fundamentais a serem apuradas na matéria.
O próximo passo é conversar com Rebeca Lerer, responsável pela campanha Nuclear do Greenpeace, que, a propósito, nao está respondendo meus e-mails. Mas não tem problema. Caso julgue necessário, tenho uma carta na manga para ela também.
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Em tempo: fui convidado pela Presidente do recém nascido Institudo RAM de Reeducação Ambiental, Lisiane Braga, para fazer parte do grupo sócio fundador da entidade e colaborar com ações em comunicação. Aceitei com muito orgulho.