A percepção do universo captada pela ordinária visão de um jornalista terráqueo

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Como eu queria ter escrito isso

Mano, sabe quando a gente admira tanto uma coisa, uma obra, uma arte, que faz a gente pensar assim: "Putz, como eu queria ter sido o autor dessa obra". Ou "como eu queria ter escrito isso ou pintado aquilo ou ter tido aquela inspiração". Sabe?

Então, é exatamente o que eu penso toda vez que eu leio essa maravilha de soneto escrito por Vicente de Carvalho, chamado Esperança, e que eu tenho agora o maior prazer de compartilhar com vocês (principalmente com os que ainda não o conhecem).

ESPERANÇA

Só a leve esperança em toda a vida
disfarça a pena de viver, mais nada;
nem é mais a existência resumida
que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida,
é uma hora feliz, sempre adiada
e que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos
árvore milagrosa que sonhamos
toda arriada de dourados pomos

existe sim; mas nós não a encontramos,
porque está sempre apenas onde a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos.

Que maravilha! Como eu queria ter escrito isso.

3 comentários:

Luís Pereira disse...

Puta que o pariu! É meio amargo, mas é lindo esse soneto. Vai dizer ...

Anônimo disse...

Realmente, essa última estrofe é do caralho.

Tem obras que eu queria ter feito, mas esse sentimento não aparece necessariamente em relação aos melhores filmes que já vi, ou aos melhores sons que já ouvi.

Simplesmente, tenho esse sentimento quando os autores parecem ter resumido uma vontade momentânea igual a minha, uma sintonia do momento, e parecem ter tido as mesmas condições que a minha... sei lá...

Gostaria de ter feito "A Bruxa de Blair", ter tido essa idéia que eles tiveram. Gostaria de ter gravado o Check Your Head, do Beastie. "Só" isso...

MOL

Luís Pereira disse...

Pode crer Mol. Quando é uma sacada palpável ...